Aprendendo, lidando.

Hoje estou bastante pensativa.
Aquela angústia terrível está indo embora. As vezes a tristeza vem chegando como uma onda na praia, mas, exatamente como a onda, ela se vai.
São momentos como hoje.
Fomos convidados pela minha tia para participarmos do aniversário do meu tio.
Amo minha família Matsuyama, me preocupo e me sinto feliz pelo convite.
Mas é sempre estranha a sensação de estar com eles e meu pai não estar.
Quando falta um ente muito próximo, é muito estranho.
Parece que ele sumiu, que foi viajar e já volta... eu ainda lembro do cheiro do meu pai, do jeito macio do cabelo dele quando eu mexia, dos ossos dele quando eu o abraçava, está tão presente, mas tão ausente. A noite, de madrugada, as vezes alguém vai usar o banheiro, e penso que é meu pai, acordado ainda. Ele sempre dormia tão tarde. E até me lembrar de que não é ele, que ele não está mais aqui, eu custo a aceitar.
Mas aos poucos a gente vai se acostumando. Aparentemente minha mãe já entendeu a nova situação, apesar de toda a falta que ela sente, minha irmã também, mas eu sempre me pego chorando e pensando nas coisas que ele não teve, coisas que eu poderia ter feito mais, que eu deveria ter falado pra ele.

Hoje, como eu dizia,eu fiquei vendo meu tio, e .... Como a semelhança é grande. Mesmo na forma de ele organizar as coisas dele, a letra dele, o jeito de ele ser e pensar, lembrava muito meu pai.
Fiquei vendo ele soprar as velinhas de aniversário perto das netinhas, e cortando o bolo segurando a mão de uma delas, e fiquei pensando em como eu estava feliz por ele estar bem, por ele poder ver os netos crescerem, por ele estar sorrindo. Fiquei feliz.
Ao mesmo tempo, deu um nó na garganta. Porque meus filhos não conheceriam o vovô.
Sempre que vejo avôs e netos tenho essa sensação: "Como eu queria ter dado netos pro meu pai". Ele os amaria tanto. Ele se alegria.
As pessoas que nós amamos, precisamos cuidar pra que elas sejam saudáveis e felizes todos os dias da vida delas.
Fiquei feliz porque eu não estava mais com raiva, não tinha raiva do meu tio por ele ter algo que meu pai não teve. Fiquei feliz por ele estar feliz.
De alguma forma, penso que começo a superar algumas coisas.
Outras ainda estou aprendendo a lidar. A vida nova de casada é uma dessas coisas. Lidar com alguém que pensa diferente, que teve uma criação diferente, e adequar de forma que você seja um só com ela, é algo que vai além das forças humanas. Acredito que precisa de boa vontade, de estar disposto a fazer o que for preciso, mas acredito, que precisa da ajuda de Deus. Porque nós queremos as peças certas nas atitudes quando Deus já vê o todo, o quebra cabeça montado.
Nesse meio de lidar com algumas dores, creio que alguns fundamentos da minha fé estão sendo estabelecidos, em meio a dor, utilizando a dor. E nesse ínterim, vejo que preciso aprender que Deus me ama, e que cuida de mim.
Quando coisas ruins acontecem, catástrofes dolorosas demais que nos abalam por dentro e profundamente, ficamos tão desestabilizados que precisamos nos reestruturar. E penso que, Deus pode estar querendo fazer algo nessas situações.
Uma coisa que preciso reaprender é que Deus ama, a ponto de se importar.
Pensando nisso e no luto, tenho ouvido sobre o filme: "A Cabana".
Lidar com o luto lidando com Deus.
Já li o livro há um tempo, mas acredito que eu era outra pessoa quando o li. Agora que meu coração está assim, penso que seria uma boa lê-lo. Ouvi o Pr. André Valadão falando sobre esse filme no YouTube, e me interessei mais ainda, porque ele abordava exatamente sobre essas questões que estão em mim agora.

Tento pensar num desfecho pra tudo o que escrevi aqui, mas, acredito que não preciso. Porque,na verdade, esse é um diário de sentimentos. Diário não, um desabafo semestral.
Uma forma de lidar com tudo o que se passa dentro de mim, sem ter que pagar um terapeuta. Talvez eu mesma entenda o que se passa dentro em mim e consiga, com a ajuda de Deus e dos meus amados, a lidar e vencer tudo isso.

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